JPCam registra sua ‘primeira luz’
Segunda maior câmera do mundo para observação astronômica, a JPCam, instalada no Telescópio de Pesquisa Javalambre, do Observatório de Astronômico de Javalambre (OAJ), na Espanha, registrou, no último dia 29 de junho, sua ‘primeira luz’, como é designado o momento em que um instrumento astronômico é apontado para o céu e inicia a coleta fótons (partículas de luz) vindos de estrelas e galáxias.
A JPCam – sigla, em inglês, para Câmera Panorâmica do Javalambre – incorpora tecnologia de ponta: tem mais de 1,2 gigapixels (bilhão de pixels), divididos em um mosaico de 14 detectores, que trabalham sob alto vácuo e a temperaturas baixíssimas (110 graus celsius negativos).
Esses detectores de silício para captação de imagem – conhecidos tecnicamente como CCDs – convertem fótons em elétrons (corrente elétrica), em processo semelhante ao que ocorrem em câmeras digitais ou de celulares.
A JPCam é capaz de produzir imagens em 56 cores de cada estrela, galáxia e objeto do Sistema Solar. O equipamento levou cerca de 10 anos para ser finalizado, o que dá ideia da complexidade em integrar detectores e a eletrônica do Telescópio Javalambre (JST/T250), cujo campo de visão é equivalente à área de 36 luas cheias.
Colaboração internacional
A construção da JPCam é projeto hispano-brasileiro, no âmbito da colaboração J-PAS (sigla, em inglês, como Javalambre-Física do Universo em Aceleração). O J-PAS é um levantamento celeste gigantesco, voltado para descobrir características da ainda misteriosa energia escura, responsável por cerca de 70% do conteúdo do universo e por sua expansão acelerada.
Tem participação de pesquisadores de várias instituições brasileiras, incluindo o Observatório Nacional (ON), Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) – ambos ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) –, Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (USP), a Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade de Brasília.
O J-PAS conta também com pesquisadores da China, do Japão, da Itália, Estônia, de Portugal, da Finlândia, França, Polônia, dos EUA, da Argentina, do Chile e da Venezuela.
Imagem da ‘primeira luz’ captada pela JPCam
(Crédito: CEFCA)
Contribuição nacional
Os pesquisadores brasileiros participaram da maior parte das etapas do projeto. Foram responsáveis pela produção da JPCam – de seu desenho inicial à construção de suas partes mecânicas ‘quentes’, incluindo aquelas do dispositivo que controla a entrada de luz – e das bandejas de filtros de imagem de 14 detectores. Sob a responsabilidade dos colegas espanhóis, ficou construção do observatório e telescópio, além da produção de filtros (tecnicamente, filtros de banda curta).
No Brasil, além do ON, os recursos para a construção da JPCam vieram do MCTI; da Financiadora de Estudos e Projetos; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo; do Programa Cientistas do Nosso Estado, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
A construção da JPCam recebeu R$ 1 milhão de edital lançado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) – do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – e pela Faperj.
Pesquisadores, engenheiros e técnicoas da colaboração internacional J-PAS; ao fundo, a JP-Cam
(Crédito: Antonio Marin-Franch, CEFCA)
Energia escura e mais
Para Renato Dupke, pesquisador do ON e coordenador do projeto no Brasil, a JPCam é uma contribuição fundamental e principal instrumento da J-PAS. “Cada pixel da câmera terá seu fotoespectro. Isso significa que não só os cientistas interessados em energia escura vão poder aproveitar os dados do J-PAS, mas também astrofísicos com interesse em aglomerados de galáxias, evolução de galáxias, estrelas em nossa galáxia e Sistema Solar”.
O pesquisador titular do CBPF Marcelo Rebouças, também integrante do J-PAS, relata a importância da câmera. "A JPCam inicia a coleta de dados com notável precisão, e é de grande importância no entendimento de questões da astrofísica e cosmologia. Destaco, particularmente, nesta última área, a possibilidade de testarmos o chamado Princípio Cosmológico de homogeneidade e isotropia, bem como ter entendimento mais preciso e detalhado da expansão do universo”.
Acredita-se que o universo, em larga escala, seja homogêneo e que as leis da física são exatamente as mesmas independentemente da direção do espaço (isotropia).
Ainda em 2016, Rebouças e Dupke foram organizadores de encontro da colaboração J-PAS que ocorreu no CBPF, evento que contou com a abertura do físico experimental Ronald Shellard, diretor do CBPF
Carla Lustosa
Núcleo de Comunicação Social
CBPF
Mais informações
J-PAS: http://www.j-pas.org/
Encontro JPAS 2016: http://www.j-pas.org/collaboration/twelfth_j-pas_meeting
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