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Físico teórico Jayme Tiomno ganha biografia

Publicado: Quarta, 14 de Outubro de 2020, 16h06 | Última atualização em Quarta, 14 de Outubro de 2020, 16h07 | Acessos: 486

A física teórica deveria agradecer todos os dias pelo fato de, ainda na década de 1930, o jovem Jayme Tiomno ter deixado o curso de medicina. Nunca saberemos que tipo de profissional a prática clínica ou a cirurgia perderam. Mas há uma certeza indiscutível: aquele aluno indeciso se tornou um dos maiores físicos teóricos do Brasil de todos os tempos – para muitos, ’o’ maior.

Sua destreza com números, fórmulas e equações era admirável. Quem o viu em ação mental alega que ele alternava mecânica quântica e relatividade geral com a mesma facilidade com que se escolhe entre duas cores de camisa.

Carioca, filho de judeus russos imigrantes, Tiomno – um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ) – publicou artigos importantes ao longo de quase sete décadas de trabalho árduo – sua lista de prioridades parecia ter um só item: física. Mas será para sempre lembrado como o teórico que decifrou, no fim da década de 1940, de forma pictórica (por meio de um triângulo), a então misteriosa universalidade da força nuclear fraca, envolvida em certos fenômenos radioativos.

A vida e obra de Tiomno (1920-2011) – casado com uma das pioneiras da física no Brasil, Elisa Frota-Pessôa (1921-2018) – ganha agora Jayme Tiomno: a life for science, a life for Brazil, biografia assinada pelo físico-químico norte-americano William Dean Brewer, da Universidade Livre de Berlim (Alemanha), e pelo historiador da ciência brasileiro Alfredo Tiomno Tolmasquim, engenheiro químico por formação e sobrinho de Tiomno.

Como ensina a boa prática da história da ciência, Tiomno – como alertam os autores logo no Prólogo – é visto através de lentes grande-angulares, contrastado e posto em ressonância com sua época e cenários nacional e internacional.

A seguir, íntegra da entrevista de Tolmasquim, do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro (RJ), ao Núcleo de Comunicação Social do CBPF.

 

Quais as primeiras lembranças de seu tio, e em que momento o senhor descobriu que ele era cientista?

Tive pouco contato com ele em meus primeiros anos. Ele viajava muito. Eu ouvia histórias de que ele era um cientista de renome, mas só comecei a internalizar isso de fato quando os professores me perguntavam se eu tinha algum parentesco com o Tiomno. Isso, principalmente, a partir do ensino médio.

Comecei a ter contato mais próximo com ele a partir 1972, quando ele e Elisa [Frota-Pessôa] retornaram de Princeton [EUA] e compraram uma casa em Arraial do Cabo [litoral fluminense]. Eles adoravam receber pessoas lá, e, para meus irmãos e eu, a viagem era uma grande diversão.

 

Quando e por que o senhor decidiu escrever uma biografia de seu tio?

Eu já havia pensado anteriormente em escrever uma biografia do Tiomno, mas nunca concretizei esse projeto, até que recebi um convite do William Brewer, físico de Berlim, para a fazermos juntos. Brewer havia conhecido Tiomno e sabia que seu trabalho em física, apesar de muito importante, era pouco conhecido. Ele sugeriu, então, à editora Springer, fazer uma biografia do Tiomno para a coleção Springer Biographies. Ela acolheu bem a sugestão, e começamos o trabalho.

 

Em suas pesquisas para o livro, qual descoberta sobre Tiomno mais o surpreendeu?

Foi sua participação central nos estudos que levariam à construção do Modelo Padrão da Física de Partículas, concluído na década de 1970 e válido até hoje. Ele estava no mainstream da física da época, convivendo e colaborando com grandes nomes, como [o paquistanês] Abdus Salam [1926-1996], [o húngaro] Eugene Wigner [1902-1995], [o sino-americano] Chen Ning Yang, [os norte-americanos] Richard Feynman [1918-1988] e John Wheeler [1911-2008], entre muitos outros.

Era um momento muito rico e estimulante para a física, pois eles estavam descobrindo um novo universo de partículas subatômicas e as forças que determinavam suas interações. Ele não só fazia parte desse grupo, mas era reconhecido por sua contribuição.   

 

Qual foi o tópico mais difícil do livro em relação à pesquisa ou redação?

Foi sobre o prêmio Nobel. Houve indicação do John Wheeler para que Tiomno, [o norte-americano] Robert Marshak [1916-1992], [o indiano] George Sudarshan [1931-2018] e [a sino-americana] Chien-Shiung Wu [1912-1997] recebessem o Nobel de física de 1987 pela contribuição para a interação universal de Fermi, conforme descoberto pelo historiador da ciência [brasileiro] Olival Freire Júnior, [da Universidade Federal da Bahia].

Além disso, especulava-se que ele poderia ter ganhado o Nobel de 1958, se tivesse utilizado os dados corretos para a formulação da teoria universal da interação fraca, ou que merecia ter ganhado o prêmio por sua contribuição à conservação da paridade [propriedade das partículas subatômicas].

Essas discussões estão relacionadas à percepção de certa falta de reconhecimento do trabalho dos cientistas latino-americanos. Para muitos historiadores da ciência, isso, inclusive, explicaria por que César Lattes [1924-2005] não tenha sido contemplado com o Nobel em 1950, juntamente com [o britânico Cecil Powell [1903-1969], por causa da descoberta do méson pi [partícula responsável pela coesão do núcleo atômico].

Mas há diferentes narrativas, pontos de vista e interpretações sobre essa questão do Nobel, o que exigiu que nos debruçássemos com bastante atenção sobre o tema. 

 

Muito(a)s de nosso(a)s cientistas têm uma persona privada bem diferente da persona pública. Tiomno era o mesmo nesses dois ambientes?

Creio que sim. Tiomno e Elisa gostavam de receber seus alunos em sua casa para conversar sobre física ou saber como estavam indo em suas carreiras. Também recebiam muitos colegas e amigos cientistas.

Talvez, pelo fato de ambos serem físicos, a casa deles terminava sendo uma extensão da universidade ou do CBPF. Assim, suas características e a maioria dos hobbys que ele tinha em casa  terminavam sendo compartilhados também com seus colegas.

 

Tiomno e Elisa não eram politizados no sentido de serem militantes ou membros de partidos. Mas foram cassados pela ditadura. A que o senhor atribui essa cassação?

Existem aqui vários fatores. O governo militar considerava que as universidades eram uma espécie de viveiro de subversivos. Eles achavam que muitos professores usavam de sua influência sobre os alunos para estimular o movimento contra a ditadura, que ganhou muita força em 1968.

Daí, eles visavam a professores que eram grandes lideranças acadêmicas. De fato, Tiomno e Elisa eram grandes polos de atração de jovens alunos, mas pela perspectiva de fazerem física e não a política.

Além disso, uma das características mais tristes desse processo foi o denuncismo. Havia as chamadas listas negras. Professores denunciavam outros, de forma mentirosa, como comunistas ou subversivos, para afastá-los da universidade e conseguir galgar novos degraus na carreira ou por inveja, pelo prestígio internacional que possuíam.

Denúncia feita em 1964 dizia que Tiomno era um comunista de longa data, mas que tinha conseguido enganar os Estados Unidos, viajando para vários congressos lá. Segundo a denúncia, ele aproveitava esses encontros internacionais para entrar em contato com cientistas da “cortina de ferro” (sic) ou que eram espiões disfarçados. Uma verdadeira loucura!

 

Tiomno era de uma geração que poderia ter feito carreira lá fora, mas optou pelo Brasil. A que se deveu essa atitude em sua opinião?

Ele tinha um nacionalismo muito característico daquela geração – a ideia de ajudar a construir um Brasil desenvolvido, que aconteceria a partir da ciência e da educação. Além do Rio e São Paulo, ele ajudou a estabelecer uma física de qualidade no Pará, Rio Grande do Sul, em Brasília, entre outros locais.

Tanto ele quanto Elisa achavam que tinham uma missão a cumprir no Brasil. Isso os motivava a permanecer no país, apesar de todos os revezes que passaram, como a interrupção do projeto da Universidade de Brasília, a aposentadoria pelo AI-5 ou a demissão do CBPF, que eles haviam ajudado a criar.

 

Momento polêmico da carreira de Tiomno foi quando ele decidiu prestar, no final da década de 1960, concurso na USP para vaga que tinha sido criada anos antes para Lattes. Quais foram as consequências dessa decisão e de que modo ela afetou o relacionamento entre os dois?

Tiomno e Lattes ficaram muito amigos no segundo semestre de 1947, quando Tiomno estava em São Paulo como assistente no Instituto de Física da Universidade de São Paulo [USP], e Lattes havia retornado de Bristol [Reino Unido] a caminho da Bolívia, para fazer medições que levariam à confirmação da existência do méson pi. Naquela oportunidade, Lattes deu um seminário na USP.

Tiomno foi padrinho de casamento de Lattes com Martha Siqueira [1923-2002] em janeiro de 1948. Infelizmente, essa forte amizade começou a se desfazer em 1954, com o escândalo decorrente do desfalque promovido por Álvaro Difini [então, diretor financeiro do CBPF].

Em 1966, quando a USP lançou o concurso para a cadeira de física avançada, Lattes conduzia um projeto de grandes dimensões com físicos japoneses em Chacaltaya [montanha boliviana] sobre raios cósmicos. Lattes reclamou que o concurso estava acontecendo num momento inoportuno e disse que não iria participar.

Por causa disso, Tiomno e Ernesto Hamburger [1933-2018] se inscreveram para o concurso. Algum tempo depois, estimulado por assistentes, Lattes anunciou que iria concorrer. Hamburger desistiu de fazer o concurso, mas Tiomno disse que já estava trabalhando no memorial e não retiraria seu nome. Mario Schenberg tinha aberto o concurso pensando em Lattes, e ficou contrariado tanto por Lattes ter reclamado da abertura do concurso, como por Tiomno ter resolvido participar. A disputa entre os dois tornou-se uma situação tensa no departamento, mas, no final, Lattes não participou.

 

Que facetas de Tiomno são desconhecidas até mesmo por amigos? Ele tinha hobbies, interesses, gostos pessoais por alguma área ou personagem?

Seu grande hobby era ficar resolvendo problemas de matemática. Muitas vezes, quando íamos à casa dele, ele ficava fazendo contas nas margens dos jornais. A família chamava isso de ‘fifi’, que passou a ser sinônimo de relaxar.

Só recentemente, quando estávamos conversando para o livro, é que a [professora aposentada do Instituto de Física da USP] Sônia Frota-Pessôa, filha da Elisa, se deu conta de que o termo com que ela estava acostumada desde criança derivava de ‘física’.

Tiomno também gostava muito de trabalhar no jardim, tanto na casa em Arraial do Cabo quanto, posteriormente, em Itaipu [em Niterói]. Ele e Elisa adoravam quadros – possivelmente, influenciados por Mário Schenberg [1914-1990]. Eles iam aos ateliês de novos artistas e buscavam apoiá-los.

Outra característica deles era a satisfação em receber amigos em sua casa. Mas uma lembrança que me chamou muito a atenção foi como eles apreciavam as novelas – principalmente, as da Janete Clair [1925-1983]. Eles adoravam conversar, mas a hora da novela era sagrada.

 

Pergunta que começou a ser feita antes do lançamento da biografia. O senhor pretende traduzi-la para o português?

Eu gostaria muito. Creio que a trajetória dele pode servir de exemplo e inspiração para estudantes que queiram seguir a carreira científica – especialmente, a física. Fora isso, ele fazia parte de uma geração de idealistas que via a dedicação à ciência e educação como missão e fator primordial para transformar o Brasil. Essas pessoas fazem muita falta na situação de hoje em dia. Espero que surja editora interessada em publicá-lo em português.

 

Serviço

Livro: Jayme Tiomno: a life for science, a life for Brazil

Autores: William Dean Brewer e Alfredo Tiomno Tolmasquim

Editora: Springer (https://www.springer.com/br/book/9783030410100)

Páginas: 412

Ano: 2020

Preço: US$ 84,99 (capa dura) e US$ 64.99 (versão eletrônica)

 

Mais informações:

Resenha: https://revistapesquisa.fapesp.br/uma-vida-dedicada-a-ciencia/

Slides webnário Brewer: https://bit.ly/2FxNvdY

 

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