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Físico da Unicamp relembra ex-colega da CBJ

Publicado: Segunda, 16 de Novembro de 2020, 16h09 | Última atualização em Segunda, 16 de Novembro de 2020, 16h16 | Acessos: 368

A convite do Núcleo de Comunicação Social, o físico experimental Edison Hiroyuki Shibuya, professor aposentado do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (SP), relembra e homenageia colega falecido recentemente, Toru Shibata, com o qual trabalhou na Colaboração Brasil-Japão, voltada para o estudo de raios cósmicos.

 

Toru Shibata (1943-2020)

Toru Shibata, professor emérito pela Universidade Aoyama Gakuin, nasceu em 13 de fevereiro de 1943, em Setagaya, Tóquio (Japão), sendo, portanto, da geração que sofreu os efeitos da Segunda Guerra Mundial, conflito que vitimou cerca de 100 mil pessoas nos incêndios provocados pelos bombardeios. Faleceu em 06 de agosto último, data que marca o 75º ano do lançamento da bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima.

Shibata foi contratado, de abril de 1973 a março de 2011, pela Universidade Aoyama Gakuin, culminando lá sua brilhante carreira acadêmica e científica com a concessão, em abril de 2011, do título de professor emérito.

Logo após a obtenção do título de doutor pela Universidade Waseda, em março de 1970, Shibata pesquisou e lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre junho de 1970 a setembro de 1972, substituindo o colega e também físico experimental Akinori Ohsawa, contratado para o período 1968 e 1969.

Em agosto de 1967, César Lattes (1924-2005) foi contratado para efetuar pesquisas em cronologia na então recém-fundada Unicamp. O grupo da Colaboração Brasil-Japão de Raios Cósmicos, cujos trabalhos estavam centrados no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), ficou sob a responsabilidade do físico teórico Mário Schenberg (1914-1990).

Dificuldades de convivência entre membros da CBJ na USP levantaram a possibilidade de vinda do físico e filósofo da ciência japonês Mituo Taketani (1911-2000) para liderar a colaboração, por causa da autoridade científica internacional de Taketani e à sua familiaridade com o modo de vida dos brasileiros – ele já havia estado na direção do Instituto de Física Teórica, de São Paulo (SP), na década de 1950. À época, houve menção sobre uma possível vinda de Taketani com ‘chibata’ – um jogo de palavras com Shibata, cujo nome aparecia pela primeira vez na física brasileira.

Para efetivar a transferência da CBJ de São Paulo para Campinas, Lattes visitou o Japão em 1968 e, no retorno, veio acompanhado por Ohsawa, contratado para dar continuidade aos trabalhos da CBJ agora na Unicamp – e não mais na USP.

 

Visto de turista

Shibata chegou a São Paulo no sábado, 30 de maio de 1970, onde permaneceria trabalhando por cerca de 2,5 anos, retornando ao Japão no final de setembro de 1972. Desde sua chegada, passou por várias dificuldades.

A primeira dela foi o fato de que ninguém o estava esperando no aeroporto para recepcioná-lo – e ele ainda não falava português. Isso o obrigou a contatar, em Capinas, a esposa do físico japonês Takao Tati, que, naquele momento, estava visitando o CBPF para  acompanhar Lattes. O aviso sobre a chegada de Shibata só chegou à secretaria do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia do Instituto de Física da Unicamp dois dias depois, ou seja, na segunda-feira, 01 de junho.

As dificuldades continuaram. Lattes pediu que Shibata fosse imediatamente para o Rio de Janeiro. Cansado por causa da longa viagem do Japão ao Brasil, Shibata adormeceu nos últimos bancos do ônibus e não foi notado – pois ele era franzino – pelo motorista da Viação Cometa. Só acordou quando o ônibus estava sendo recolhido à garagem.

Agitado com a situação, fez-se entender com o motorista que apontava repetidamente a direção da estação rodoviária. Lá chegando, não encontrou nem Lattes, nem Tati. Pediu para anunciar sua chegada pelo alto-falante da estação e, finalmente, conseguiu contatá-los.

Sua tumultuada chegada foi amenizada com a visita ao CBPF, onde, em 04 de junho, participou de seminário sobre tema relacionado à sua tese de doutorado: análise das colisões de partículas contra alvos de carbono presentes nas câmaras de emulsões – estas eram um ‘sanduíche’ formado por filmes fotográficos especiais (chapas de emulsões), filmes de raios X e placas de chumbo. Essas câmaras estavam instaladas no monte Chacaltaya, na Bolívia, com cerca de 5,2 mil metros de altitude em relação ao nível do mar.

Shibata havia feito sua tese – cujo título era ‘Study of multiple meson production in super high energy region’ – com o renomado experimental Yoichi Fujimoto, um dos líderes da CBJ. O segundo líder da parte japonesa da CBJ era Shunichi Hasegawa, tragicamente falecido.

 

Shibata, entre Fujimoto e Hasegawa, na Universidade de Waseda, em novembro de 1980

(Crédito: Arquivo pessoal)

 

  

À frente, Hasegawa (esq.), Shibata e Ohsawa e alunos de Waseda; atrás de Ohsawa, Kei Yokoi

(Crédito: Arquivo pessoal)

 

 Shibata foi chamado às pressas para a Unicamp, para onde veio dois meses depois de defender o doutorado. Por causa disso, chegou ao Brasil com visto de turista. Para regularizar a situação, teve que, a cada 90 dias, viajar para fora do país para renovar o visto. Adicionalmente, precisava de atestado de bons antecedentes no Japão, documento emitido pelos órgãos de segurança daquele país.

O problema é que Shibata havia participado (possivelmente, com destacado protagonismo) dos movimentos estudantis de protesto de 1968 em Tóquio, o que deve ter dificultado a emissão daquela documentação. Essa militância não cessou com a idade madura – sou testemunha de que, em anos recentes, ele participou de demonstração contra o envio de ajuda militar japonesa ao Iraque, ou seja, foi um cientista engajado ao longo da vida em causas políticas e sociais.

A consequência marcante da falta de documentação – tanto do visto de trabalho quanto de bons antecedentes – foi a obtenção da Carteira de Identidade de Estrangeiro (conhecida como Modelo 19) apenas nas vésperas de seu retorno ao Japão. Antes da viagem de volta, aventou a possibilidade de manter consigo a identidade como recordação do Brasil. Mas, no guichê do Aeroporto Internacional de Congonhas, em seu embarque, o documento foi confiscado pela Polícia Federal.

 

Colírio para os olhos

Nos 28 meses de sua estada, Shibata visitou oito vezes o CBPF. Utilizando um método por ele inventado para análise de interações observadas nas chapas das câmaras de emulsões, efetuou refinadas medições visando a determinar características da interação dos raios cósmicos com elementos das câmaras expostas em Chacaltaya.

Outro fato notável – também resultante de suas visitas ao CBPF – são as medidas das interações – tecnicamente, denominadas C-jatos – que ele fez nas mesmas chapas de Chacaltaya. Para aumentar seu poder visual, chegou a usar colírio dilatador de pupila para poder enxergar pormenores dos eventos – lembro-me de seu comentário sobre o incômodo, por causa das pupilas dilatadas, causado pela luz do túnel que liga o bairro de Botafogo ao de Copacabana, que ele atravessava a pé todas as noites.

Esses dados obtidos por Shibata sobre os C-jatos tanto no CBPF quanto na Unicamp foram muito apreciados pela comunidade internacional de altas energias, não só por causa do pioneirismo das características das interações, mas também devido ao extremo cuidado com que as medições foram feitas por ele.

Análises desses dados, usando o modelo de bolas de fogo (secundários energéticos, isotropicamente distribuídos) foram feitas pela CBJ e citadas em publicações de renome, como Nuclear Physics A418(1984)117c, por Giulia Pancheri e Carlo Rubbia – este último, ganhador do Nobel de Física de 1984. Vale lembrar que Rubia havia proposto o experimento UA1/SppS/Cern para também verificar as observações da CBJ.

Mas, na publicação Physical Review D (v. 22, n. 1, p. 100, 1980), usando agora modelo de quarks-pártons, Shibata calculou analiticamente as seções de choque (‘probabilidade’ de colisão) necessária para a produção de hádrons (prótons, nêutrons, píons etc.) e raios gama. Esses cálculos indicaram surpreendente concordância com os dados de C-jatos para eventos de energia em estudo nessa ocasião.

Esse artigo, no entanto, não foi apreciado pelos líderes japoneses da CBJ, e isso acelerou sua saída da colaboração. Em anos posteriores à publicação desse artigo, as observações em experimentos de aceleradores foram interpretadas como evidências de pártons e resultaram no Nobel de Física de 1990 para Jerome Friedman, Henry Kendall (1926-1999) e Richard Taylor (1929-2018).

 

Pós-CBJ

Após deixar a CBJ, Shibata iniciou em 1995 exposições de câmaras de emulsões por meio de 11 voos de balão lançados a partir da península de Kamchatka (Rússia). O experimento foi denominado RUNJOB (RUssia-Nippon JOint Balloon collaboration).

Os resultados de 10 voos – o 7º deles falhou – foram condensados em artigo publicado em The Astrophysical Journal. Essas medições diretas sobre o espectro e a determinação da composição química de raios cósmicos com energia entre 10 e 1000 trilhões de elétrons-volt (TeV) são um marco histórico, citados em, pelos menos, três relatórios de conferências e simpósios internacionais.

Em outra visita ao CBPF, em julho de 1971, apresentou seminário no qual comparou resultados de dois grupos (o do CBPF e o da Unicamp) da câmara 14 da CBJ, exposta à radiação cósmica entre maio de 1968 e maio do ano seguinte em Chacaltaya. E, na visita de julho do ano seguinte, consolidou os resultados de C-Jatos observados na câmara 15 pelo CBPF e pela Unicamp.

   

Na Unicamp

Até 12 de janeiro de 1971, o Departamento de Raios Cósmicos esteve sediado no subsolo do edifício da Unicamp à rua Culto à Ciência 177. No início da universidade, esse prédio abrigava todo o setor administrativo, salas de aula e até o gabinete do então reitor, Zeferino Vaz (1908-1981).

No início de sua estada, Shibata morou em uma pensão e, posteriormente, alugou uma casa compartilhada com dois outros colegas do Instituto de Física Gleb Wataghin – antes, denominado Instituto Central de Física da Unicamp. Trabalhava intensamente todos os sete dias da semana. Nos sábados, gostava de tomar caipirinha, que acompanhava a feijoada.

Lembro-me de ocasiões em que machucamos os olhos por estarmos sonolentos ao microscópio – equipamento necessário para observar as emulsões nucleares, parte das câmaras de emulsões. Outra lembrança marcante: o consumo exagerado de bebidas alcoólicas diariamente, ao término dos trabalhos no laboratório de medição das CENC n. 14 e n. 15.

As causas para esses exageros eram o cansaço dos trabalhos cotidianos e, mais ainda, as notícias preocupantes que ele recebia de colegas japoneses que contestavam os posicionamentos e as atitudes dos líderes da CBJ.

Em Chacaltaya, em trabalhos de desmontagem de uma câmara, teve febre intensa. Foi o sinal de que os excessos alcoólicos estavam cobrando sua conta. O resultado foi que, ao voltar ao Japão, acabou internado, com diagnóstico de cirrose hepática.

 

Shibata (centro, à frente), Fujimoto (esq,) e membros do DRCC, em 1974; Andrea Wataghin (atrás, dir.)

(Crédito: Arquivo pessoa)

  

Peripécias do Senpai

Quando o Instituto de Física da Unicamp foi finalmente transferido para sua sede na Cidade Universitária – a cerca de 15 km da região central de Campinas –, passamos a ter dificuldades de transporte, pois o último ônibus fretado saía às 18h. Certa vez, por causa dos trabalhos com as câmaras, chegamos quase a perder o das 23h, da linha regular. Isso nos obrigaria ou a dormir na Unicamp, ou caminhar os 15 km para voltar para casa.

Essas e outras peripécias consolidaram nossa amizade. O falecimento do Senpai Toru Shibata foi um choque para mim. A palavra japonesa senpai significa sênior, veterano, mas parte dela, em português, representa algo que Shibata foi para mim: ele foi meu pai científico, contribuindo, inclusive, por causa de sua imensa generosidade intelectual, para minha tese de doutorado, calcada em morfologia e interações de raios cósmicos, tópicos que ele dominava com excelência.

Descanse em paz, Toru Shibata.

 

Edison Hiroyuki Shibuya

Professor aposentado,

Instituto de Física Gleb Wataghin,

Unicamp

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